Este fim-de-semana estive com o meu avô. Encontrei-o nitidamente mais debilitado e psicologicamente muito desanimado. Para quem não o conhece, o meu avô é um homem tímido que passou por muitas dificuldades na vida e que desde sempre teve como razão de viver o trabalho da terra. Todos o conhecem como um homem de poucas palavras, mas que tinha no trabalho o seu maior prazer. Este senhor de que vos falo tem hoje 98 anos e só muito recentemente, há poucos meses atrás, é que começou a fraquejar e a perceber que os joelhos já não acompanham a mente trabalhadora.
Para um homem que viveu para trabalhar, ficar sentado numa cadeira a ver as horas passar, é uma espécie de morte lenta. E foi assim que o encontrei. Triste por o corpo já não o deixar viver. Triste porque a sua principal razão de ainda aqui estar lhe está a ser retirada, devagarinho e sem qualquer dó. Senti-o a sofrer cada vez que se levantava para ir à casa de banho ou apenas para se levantar e sentar à mesa. "Os joelhos, eu precisava era de algum milagre para os joelhos. Não posso fazer nada, passo os dias a olhar para o relógio a ver as horas passar... se ainda houvesse algo que pudesse fazer..."
Lastimou-se de uma vida sofredora onde desde os 12 anos não fez mais nada do que trabalhar, à chuva e ao sol, de dia e de madrugada para ajudar a mãe que ainda hoje lhe traz lágrimas ao rosto. Contou-me que passava dias a fio a trabalhar sozinho, porque precisava de sustentar a família. Os amigos chamavam-lhe o "burro sozinho". E comovia-se cada vez que recordava o passado. E eu tremia por dentro enquanto respondia que ele está óptimo, que ainda vai aqui ficar mais uns anos, dava-lhe o exemplo do Manuel de Oliveira que vai fazer 103 e dizia-lhe que ainda vamos festejar muitos aniversários juntos.Contei-lhe que estou a planear fazer uma reportagem fotográfica com ele em Junho, perguntei-lhe se quer ir conhecer alguma cidade, enfim, fiz tudo o que achei que estava ao meu alcance para o animar.
A verdade, é que vim de lá com o coração destroçado e não são poucas as vezes que dou comigo a imaginá-lo sentado naquela sala a ver as horas a passar. Neste momento, esta é a minha maior fonte de angústia. Vê-lo sofrer e a passar o dia a pensar que o tempo se está a esgotar. Que cada dia que passa é menos um dia que o tenho aqui. Já tenho tantas saudades dele...Que existência ingrata, a nossa.
Sem comentários:
Enviar um comentário