quinta-feira, 30 de junho de 2011

O fio da vida

Já aqui falei do meu avô de 98 anos e da sua absoluta necessidade de se sentir vivo e útil. E para o meu avô, sentir-se útil significa estar no campo, na terra, a semear, a colher ou a lavrar. Tudo conta, desde que seja na terra. Também já aqui falei da tia que tratou de mim em criança.

Esta semana, durante uma manhã em que estavam ambos a colher feno, o peso da idade deu sinal de si e o meu avô, ao conduzir um tractor, atropelou a filha, a minha tia. O resultado foram costelas partidas, fígado e pulmão perfurados.

Não imagino a angústia e o sofrimento que o meu avô sentiu. Não imagino o que lhe terá passado pela cabeça naqueles minutos em que a ambulância não chegava e o desespero que passou.

Mas uma coisa sei: o que ali aconteceu foi um milagre. E hoje, 4 dias depois, agradeço o desfecho. A minha tia está a recuperar e o meu avô vai acabar por ultrapassar o choque. Esta história serve também para nos lembrar a nossa pequenez e fragilidade. Para nos lembrar que temos a vida presa por um fio. Todos os dias, a todas as horas. Que basta um segundo para a nossa existência ser marcada para todo o sempre.

Se existe alguém com uns cordelinhos a comandá-la, obrigada por esta oportunidade. Obrigada por não teres deixado acontecer.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A idade da inocência


Hoje foi um dia em cheio. Passei o fim de tarde com o R. e os meus sobrinhos e acho que ele gostou tanto quanto nós. Fomos à praia, atiraram pedrinhas à água, rebolaram na areia, fizeram castelos, dançaram, pularam, jantaram no MacDonalds e brincaram nos insufláveis. Falamos sobre a vida dos micróbios, sobre o nariz do Pinóquio - que quando mente muito chega a bater na Lua - e sobre os castigos na escola.  Já em casa, foram directos para a banheira. Durante o banho conversamos sobre a importância de lavar bem os dentinhos, dos perigos do facebook, enquanto o Jorgicas contava que descobriu que a pele da pilinha vem para trás.

No final do dia, estava ligado a mim como nunca tinha sentido antes. Pediu-me para o trazer comigo, para o ir ver todos os dias lá a casa e para dormir com ele. Até chorou na hora da despedida. Será que algum dia vai recordar esta tarde? Houve ainda tempo para revelações. Foi precisamente hoje, aos 4 anos de idade, que fiquei a saber que quando for grande quer ser corta-relvas. 

Que bonita que é a inocência.