domingo, 30 de janeiro de 2011

Isto do fingir

Hoje era suposto passar a tarde com a minha Grande Amiga. Ela ainda não sabe, mas eu tinha muita vontade de estar com ela, não só porque seria o último dia antes da operação e queria muito contribuir para a descontrair e dar-lhe força, mas também porque tinha muita coisa a partilhar.

Este encontro não foi possível por causa de um anjo. Fiquei a saber, ainda durante a manhã, que ontem um anjinho decidiu vir buscar-lhe a avó. Só que este anjinho fez-lhe outra grande partida. Ele veio buscar a avó no mesmo dia da festa de anos do filho P. que já tem 6 anos. Não imagino como terá sido, mas ela teve de ser duplamente forte para conseguir passar aquele dia - que era suposto ter sido alegre -, a fingir que estava bem disposta. Esta minha Grande Amiga já está habituada a ser forte e tem tido algumas ocasiões na vida para o demonstrar. Esta foi só mais uma. Mais uma batalha emocional para ultrapassar. E desta vez, teve ainda de fingir.

Todos temos alturas na vida em que somos obrigados a pôr em prática a arte de fingir. Só diferem as razões.  

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

R.I.P. Clotilde

E pronto, já está. O que temia aconteceu.

Parece que o meu pai foi ao zoológico da minha irmã, quer dizer, a casa da minha irmã para consertar não sei bem o quê. Sucede que ao prender o cão - um animal capaz de mandar abaixo, em três tempos, um caterpiller carregadinho de chumbo -, não reparou na distância a que ele se encontrava dos desgraçados dos coelhos domésticos que ali pululam. Vai daí, a Clotilde teve o mesmo destino que o hamster Alfredo, aqui há uns meses atrás. Isto é, acabou num saco do Continente que, religiosamente, e cada vez com maior frequência, a minha irmã despeja no lixo, sem dó nem piedade.

Ora esta história além de me deixar os nervos em franja, ainda me preocupa mais porque ontem foi o hamster, hoje é o coelho, amanhã é o gato e num destes dias, o raio do animal passa-se dos carretos e ainda faz uma asneira com o mais pequeno. Refiro-me ao meu sobrinho de 4 anos cujo passatempo predilecto é amassar-lhe o focinho até ele uivar, enquanto lhe espeta umas valentes lambadas no costado, auxiliando-se do que estiver mais à mão, que tanto pode ser o estendal da roupa, como o camião blindado que recebeu no último Natal.

Mas quando tentei chamar a atenção para este circo, tive como resposta um: "Deixa estar, eles estão a brincar", seguindo-se daquele olhar, que traduzido significa: "Que é que estás para aí a dar lições de moral se não fazes ideia do que é educar uma criança..."

E é isto. Está dito. Depois não digam que não avisei.

Nota: os nomes dos animais aqui retratados são fictícios para não abusar, ainda mais, da sua integridade.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A semana dos hospitais

O meu querido avô vai ser operado às cataratas na próxima semana e apesar de, aparentemente, ser uma intervenção simples, dada a idade avançada fico sempre um bocadinho preocupada. É nestas alturas que gostava de estar mais perto e poder acompanhá-lo. Fico a pensar o que irá na cabeça dele... Será que está preocupado? Será que tem medo? Queria, de alguma maneira, poder dar-lhe algum conforto  e apoio. Telefonar não ajuda muito, não só porque ele já não ouve muito bem, mas também porque não tenho o hábito de lhe ligar e ele pode entender isso como uma atitude de preocupação, correndo o risco de lhe aumentar o receio... Resta-me ligar-lhe no final e ficar a torcer para que corra tudo bem.

Na mesma semana, e logo no dia seguinte, uma Grande Amiga vai ser também operada. Parece-me que não será nada de alarmante, mas imagino que esteja preocupada e receosa. Sei que vai correr tudo bem, não só porque está bem entregue, mas também porque tenho a certeza que a vida dela, daqui para a frente, só pode, e só merece, melhorar.

Agora o que eu queria mesmo era poder contratar a equipa da imagem em cima para ambos. No caso dela estou mais descansada, (já sei que são bons) mas do meu avôzinho gostava de ter a certeza que não o põem nas mãos de nenhum interno.

Estou, portanto, oficialmente a torcer - e muito - pelos dois. Que chegue depressa a hora de os abraçar e dizer: "já passou, já passou".   

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Uma boa razão

- "Tia, tu não vais ter filhos?"
- "Mas porque perguntas? Querias que a tia tivesse bebés?"
"Tu é que sabes", diz, enquanto esboça um sorriso maroto.
- "Mas porque é que achas que a tia devia ter bebés?"
- "Porque é bonita".

Pronto, não vale a pena procurar mais. Finalmente encontrei uma boa razão.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

É bom que saiba parar a tempo...

O dia inteiro assolapada numa secretária. O R. foi jantar com uns amigos e eu cheguei a casa capaz de comer metade do recheio da minha despensa. Depois de devorar uma carbonara, deito-me no sofá, de papo para o ar, a dar cabo de um frasco de umas bolinhas de chocolate que teimavam em vir parar às minhas mãos. Deixei o ginásio há um ano atrás. Não corro porque está frio e limito-me a andar 10 min. diários a pé. Estou a ver que, ou me ponho fina, ou dentro de pouco tempo, e com algum jeitinho, o meu aspecto será semelhante ao das odaliscas aqui em cima...só que com mais cabelo.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Depois de muita reflexão...

Tenho pra mim que está tomada a segunda grande decisão do ano: vou continuar a não pôr os penantes no ginásio.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A lei da vida

Por razões que não vale a pena aqui enumerar - pois, até ao momento, não há uma vivalma que passe por aqui as pestanas -, a relação entre mim e a minha mãe é praticamente inexistente. Talvez também por isso tenho um laço especial com o meu pai, que se estreitou ainda mais já na fase adulta.
Ontem, pela primeira vez, esqueceu-se do meu aniversário. Falamos sobre isso uns dias antes e eu, naquela altura, suspeitei que isto fosse acontecer. O meu avô tinha uma consulta no mesmo dia e aquilo pareceu-me já demasiada areia para a cabeça dele. Nos últimos tempos, tenho notado que a memória já lhe começa a falhar e sobretudo com as "minhas coisas" acho que a situação piora. Quero acreditar que é porque não lhe dou preocupações e que será essa a razão pela qual ele desvaloriza as minhas histórias. O que quer que seja, dou comigo a pensar que daqui para a frente as coisas não vão ser melhores. E quando assim penso, há uma coisa de que tenho a certeza: não vou estar preparada.

Por outro lado, tive a minha sobrinha de 7 anos a cantar-me os parabéns ao telefone. Fiz um esforço para guardar na memória o som daquela voz de menina, pois sei que vai desaparecer num piscar de olhos.
Parece que é esta a lei da vida.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A modos que a ficar velha

37. Faço hoje 37 anos. Cada vez que penso neste número, ainda me custa a acreditar. Acho que no fundo, vou sentir-me eternamente uma criança. Agora que estou perto dos 40, não restam dúvidas: o número assusta, impõe respeito, e com ele tão perto, lá vem a pressão do balanço da vida. Ora bem, então vejamos: sim, tenho um emprego estável - não "seguro" -, mas onde já estou há 10 anos... entenda-se que, nem que seja só por isso, já se pode designar "estável".
Estou casada há 2, com vida partilhada há quase 5, e, à medida que o tempo passa, acho que, felizmente, lá vamos ficando mais próximos. Coisa que, em tempos não muito longínquos, já me pareceu estar mais longe de conseguir.

Tenho a minha família relativamente bem e tenho bons amigos. Poucos, mas bons, que é o que interessa. Tenho saúde e dinheiro suficiente para viver uma vida desafogada. Na verdade, não me posso queixar, mas, se pudesse mudar alguma coisa nos próximos 37 anos, gostava de me tornar uma pessoa mais serena e tranquila, mais paciente, mais resignada, menos racional e ansiosa. Dizem que tudo isso vem com a idade. A ver vamos. Até lá, vou ali  agradecer as mensagens do facebook e mandar abaixo um caril de camarão com quiabos.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O melhor bife do mundo

Isto é só para não me esquecer que este local é um verdadeiro paraíso e que foi aqui que comi o melhor bife do mundo. Que me perdoem as vacas, que eu até nem aprecio carne vermelha, mas não dá para abrir uma Casa Agrícola de S. Miguel no continente?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ele ainda me surpreende

Descobri que tenho um marido que, apesar de ser quase tão sensível às artes como às pedras da calçada, fica absolutamente estarrecido em frente ao televisor com este programa. É daquelas coisas que não se conseguem explicar, mas que, pelo menos, servem para me descansar o miolo. Sou até capaz de jurar que se nestas alturas me estatelasse em frente a ele só com um hula-hula vestido e a partilhar um vibrador rosa choque com a Angelina Jolie, ele era menino para me mandar ir coser umas meias.
Pelo menos agora percebo aquela mania de andar pela casa a espavonear-se com uns movimentos semelhantes aos de um ganso bêbado, prestes a ser electrocutado.
Resumindo: já lhe desmarquei a consulta. Sempre poupo 80 euros.  

O castanheiro do Sílvio

O Sílvio era um menino risonho, de sorriso aberto que nos visitava aos domingos, no final do almoço, quando nos reuníamos na casa da aldeia. A pergunta era quase sempre a mesma e a resposta também.
- Sílvio, o que comeste?
- Castanhas.
Nós ríamos e dizíamos que não podia comer demais porque senão, um dia, crescia-lhe um castanheiro na barriga. E o Sílvio sorria, numa mistura de dúvida e inocência.

Os anos passaram e o Sílvio já é um adulto. Trabalha com o pai numa oficina à entrada da aldeia e construiu uma casa com um grande portão de ferro. No inverno, às vezes vejo-o à janela a ver a chuva cair e a apreciar a sua pequena vitória. Ao fim da rua, ao virar da esquina, junto à casa do filho do "capitão" e perto da escola primária - hoje abandonada -, é ali mesmo que Ele está, grande e orgulhoso. O Sílvio sorri e recorda a ingenuidade dos tempos de menino. E nós... sorrimos também.

Afinal, foi ali que o Castanheiro do Sílvio escolheu nascer.

2011 - The special one

Nasci no dia 11 do 1 e este é o ano 2011. Gosto de pensar que é um bom presságio. Se pudesse, gostava que fosse decisivo para encontrar a harmonia de que tanto preciso. Tenho sentido forças para lá chegar. Quero muito que assim seja e, devagarinho, começo a sentir que, se calhar, vou ser capaz.
2011 vai ser especial. Que me traga paz interior, saúde, felicidade e, quem sabe, uma nova descoberta. Para mim e para os meus.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cinco anos depois


O T. é uma criança adorável cujo crescimento acompanhei, desde o tempo em que era apenas um embrião, e por quem nutri um amor imenso e muito especial. Na verdade, foi a primeira criança que amei como se fosse do meu sangue. Por imposição da vida, fomos forçados a separar-nos, abruptamente, há cerca de 5 anos atrás, quando ele tinha precisamente 5 anos. Foi uma separação difícil e muito dolorosa, não só porque me foi imposta, mas também porque na última vez que o abracei sabia que seria para sempre.

No primeiro aniversário ainda lhe telefonei, mas a dor de o ouvir tão longe e distante impediu-me de voltar a fazê-lo. Esporadicamente vou tendo notícias, sei que está bem e saudável. Poderia ir vê-lo, mas não fui capaz. Não seria um encontro feliz porque a  separação foi devastadora e um possível reencontro traria sentimentos à flor da pele que não estou preparada para viver. Os anos passaram, mas não o suficiente para apagar uma única grama do que sentia por ele. Apesar disso, o meu único contacto nestes últimos 5 anos foi um postal por altura do Natal com uma pequena lembrança da "tata Sandra". Sei que ainda lhe falam de mim, mas desconhecia a real medida das suas recordações.

Hoje, o pequeno T. enviou-me um postal. Cinco anos depois, as suas pequenas e doces letrinhas dizem-me que "tem saudades minhas e que gosta muito, muito de mim". Agora sei que não me esqueceu. Cinco anos depois, confirmo que ainda não estou preparada para este reencontro.