terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A angústia do tempo

A minha família há muito que deixou de me perguntar por bebés. Na verdade, só uma ou duas primas é que me falavam nisso,  mas a família mais directa raramente tocou nesse tema. O meu pai tentou abordar, ao de leve, por uma ou duas vezes, mas, além disso, nada mais.

Parece-me que devem pensar que não estou a conseguir e, por isso, não falam no assunto. Estão assim tão perto da verdade, como o Homo Sapiens do iphone 4. Esse tipo de comentários nunca me afectaram, mas há uma pessoa nesta vida que efectivamente tremo quando traz o assunto à conversa e essa pessoa é o meu pai.

No passado fim-de-semana, encontrou uma forma subtil de tentar saber, afinal, o que penso eu sobre a bela da maternidade. Estávamos na garagem e, no meio de alguma confusão, havia berços, colchões e carrinhos de bebé embrulhados. Vai daí, ele avança: "a tua irmã deixou isto para ti, mas como é? Quando vem o teu bebé? Ou posso pensar em vender esta tralha?".

O chão saiu-me dos pés e não tive qualquer resposta. Fiz um silêncio comprometedor e mudei de tema. Mais uma vez, fiquei sem saber o que raio é que ele está a achar de tudo isto e, mais uma vez, depois de me passar repetidamente pela cabeça "abrir-lhe o livro", acabo por reconhecer que esta não é a altura certa para o preocupar, apesar das centenas de vezes que já ensaiei esse momento. Por isso, poupei-o. E ele, quase que a adivinhar que a resposta não é boa de se ouvir, não insiste.

E, assim, cá fico eu a abafar esta angústia e a permitir que a passagem do tempo a faça crescer ainda mais.  Até quando vou ter espaço para a guardar?