domingo, 19 de dezembro de 2010

A Família do Tempo

Chegou devagarinho, sem avisar, e sem qualquer ruído que o denunciasse. Na verdade, não sei que horas eram, nem se foi de noite ou de dia. Quietinho, deixei-o ficar, sem dar importância. Nem sequer lhe perguntei o nome. Sabia que estava ali e sabia ao que vinha.
Ao longo destes poucos anos mantivemos uma relação distante. Eu deixava-o estar e ele assim se mantinha: paciente, tímido, reservado.

Há um tempo atrás, percebi que não estava sozinho. Afinal tinha irmãos. Uns mais maduros, altos e espadaúdos, outros mais magros e frágeis. Uns firmes e consistentes, outros mais discretos e sensíveis...

Passaram-se alguns meses - talvez anos -, e não tardou em que trouxesse as primas. Igualmente silenciosas e com pezinhos de lã, chegaram, não sei se de noite ou de dia, quem sabe num serão frio de Inverno enquanto dormia enroscada no sofá. Essas, mais finas e elegantes, acomodaram-se, discretamente e bem juntinhas. Se calhar a lutar contra a solidão.

Foi assim que conheci a Família do Tempo: os nobres Senhores Primeiros Cabelos Brancos e as suas elegantes primas que vieram de longe: as Senhoras Donas Primeiras Rugas. O segredo está em saber viver em paz... e com eles.

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